terça-feira, 18 de novembro de 2008

Yogyakarta e Borobudur

Entrei em contagem decrescente. Exactamente daqui a um mes termina a minha grande viagem e inicia-se uma nova etapa de cidada comum em Portugal. A ver...

Cheguei ontem a Yogyakarta, grande centro artistico e cultural da ilha de Java. Aqui a tradicao soube-se impor a modernidade. Um verdadeiro alivio depois de Jakarta.

Cheguei a estacao de Yogyakarta as 5 da manha e o dia comecava ja a despontar. Tentando decifrar o caminho ate ao hotel, fui mais ou menos ajudada por duas velhotas de lenco na cabeca que nao percebiam ingles e acho que tambem nao perceberam que eu nao pesco nada de indonesio, pois vieram o caminho todo a falar animadamente comigo. Aqui todos sao assim, extremamente simpaticos. Algo a que nos, europeus, nao estamos habituados e que estranhamos sempre meio desconfiados. Ao passear pelo centro da cidade, zona de lojas, mercados e galerias de pintura batik, fiz inumeros "amigos". Todos metem conversa e, na maior parte das vezes, nao querem nada em troca. Apenas poucos nos procuram enfiar em galerias de batik para ver se compramos algo. Estas abordagens ao inicio pareceram-me estranhas, mas depois comecei a encara-las de bom humor e tornaram-se bastante divertidas. Numa delas, explicaram-me que no Kraton (enorme palacio de Yogyakarta, onde vivem e trabalham mais 25.000 pessoas) mora o actual sultao e toda a sua familia, de duas dinastias diferentes. Estava fechado, por isso terei de o visitar num outro dia.

Passeei, perdi-me nos mercados e nas galerias e, depois de lanchar sob uma chuvada tropical, decidi regressar ao hotel. Fui entao novamente abordada por um jovem que se dirigiu a mim com um: "Are you the portuguese girl?". Fazia parte da agencia de viaegns do hotel, mas nao faco ideia como me reconheceu no meio da rua, sem nunca me ter visto. Ao inicio ate pensei que ja tinha saido nos jornais a minha foto sob um: "Portuguese arrived today in Yogya". De resto, hoje ao andar pela rua ouvi uns quantos gritos "hey Portugal!" Whatever...

La comprei os meus bilhetes para visitar os templos de Borobudur e Pramaban, em dois dias diferentes, visto que vou ficar aqui uma semana.
Hoje acordei as 4:30 da manha para visitar Borobudur, que fica a cerca de uma hora de Yogya. Fui a pe ate a agencia de turismo, acompanhada por um dos empregados do hotel que mais uma vez falava animadamente e propunha ensinar-me indonesio, enquanto eu balbuciava sonolenta.

Chegados a Borobudur, foram-nos dadas duas horas para passear a vontade. O templo surge imponente no meio de palmeiras cobertas de nevoeiro, como saido de um sonho. O meu estado, ainda meio a dormir, o amanhecer, o nevoeiro e todo o cenario paradisiaco e tropical, fizeram desta uma experiencia verdadeiramente onirica.

Borobudur procede do sanscrito "vihara Buddha uhr", que significa mosteiro budista na colina. Foi construido entre 750 e 850 d.C., sob a forma de uma imenso mandala e resistiu a erupcoes vulcanicas, terramotos e ate um atentado terrorista em 1985, contra o governo de Suharto. Tem nove andares: seis terracos quadrados e tres circulares. Nos primeiros seis, podem-se admirar infinitos baixos-relevos onde se narram historias da vida quotidiana, dominadas pelo desejo e pela paixao, em que a consequencia dos nossos actos e a reencarnacao num forma de vida superior ou inferior. A medida que se sobe, vai-se alcancando o Nirvana e multiplicam-se os budas e as figuras em meditacao. Os ultimos tres andares circulares ja nao tem baixos-relevos e sao compostos por enormes stupas que crescem ate a stupa central, topo do edificio. O templo foi concebido como uma visao budista do cosmos, subindo do mundo dos sentidos ao mundo espiritual.
De vez em quando, realcadas pela cor escura das pedras, sobressaiam tunicas amarelas de monges budistas que tambem visitavam o templo. A saida, milhares de vendedores ambulantes rodeavam os turistas como moscas atraidas pelo que nos sabemos...

Depois de um pequeno-almoco de torradas e pessimo cafe, partimos a visitar um outro templo nas redondezas: Mendut. Mil vezes mais pequeno que o Borodubur, mas construido com o mesmo estilo de baixos-relevos, e um edificio quadrado ao qual falta a stupa superior, que ficou destruida apor uma erupcao do Gunung Merapi. No seu interior, porem, encontra-se o maior buda de toda a Indonesia (mas com apenas 3 metros...), no meio dos bodhisattvas Lokesvara e Vairapana. E, ao contrario do habitual, esta sentado numa cadeira e com os dois pes no chao.

Entretanto, como estamos na estacao humida, todas as tardes cai uma chuva torrencial sobre Yogya. E, como as 5 da tarde ja e de noite, so me restam as manhas para me aventurar.
Ah! E nao vi nem soube nada de terramoto nenhum, nem tsunamis nem coisas afins... Pelos vistos nao foi em Java. E tambem tentei ontem ver no noticiario e nao falaram nada sobre isso. Ja devem estar mais que habituados...


Borodudur...

Templo Mendut


3 comentários:

Anónimo disse...

ser Onirico ou não ser...na realidade não sei se o sou mas gostei da palavra...embora desconheça o seu significado...loloololololo...Quanto ao facto de seres tuga e de por incrivel que pareça todos te terem topado....pensa que és enquanto viajante uma representante deste nosso rectangulozito que para muitos é mais uma provincia espanhola...por isso representa-o bem...

Nina disse...

onírico: adjectivo relativo a sonho

Anónimo disse...

Eduardo Lontro-F.Foz: Que sorte a tua teres a honra de visitar Borobodur. Não sei se sentiste algo de especial durante a tua visita. Para os budistas tibetanos (pelo menos) o mundo pode ser reconhecido de diversas formas, de grosseiras até muito sutis, do tipo astral. Diz-se que Buda ensinou conhecimentos elevados nessa forma mais sutil, a que só seres mais evoluidos tem acesso. Em Borobodur estão codificados os ultimos ensinamentos de Buda Shakyamuni,e dos mais importantes para atingir a iluminação, ou antes, remover os obscurecimentos que nos amargam a vida e impedem de ser verdadeiramente felizes.
Certamente alguma marca positiva, ficou em ti dessa visita. Fico contente com o teu diário de viagem. Graças a ele me sinto confiante, para planejar a minha própria viagem. Muito obrigado, um beijo e Tashi Dele.