Saio de Cuzco com a moral em baixo... E passo a explicar as razöes.
Começo pelo mau tempo: há quatro dias que chove durante todo o dia. Basicamente desde o meu aniversário. A chuva a cortar a pele como lâminas e o vento frio que a queima näo däo espaço a grandes aventuras ao ar livre por estas bandas. Mas, para compensar, todos no Hostel nos hemos ido de fiesta casi todas las noches. À noite, incompreensivelmente, o tempo melhora bastante.
Segunda razäo: Cuzco é uma cidade demasiado turística. Näo me consigo sentir verdadeiramente no Perú... tudo aqui é turismo. Como uma espécie de Matrix, em que só vemos aquilo que nos deixam ver e controlam os nossos movimentos para que näo nos apercebamos da realidade. (Estou a exagerar um bocado... estou de mal humor...) Pelo que já depreendi aqui, ou as pessoas locais de dedicam ao turismo, como empreendedores, abrindo hotéis, pensöes, restaurantes, lojas, bares, mercados de artesanato, ou entäo näo saem da cepa torta. Ah! E tendo em conta que todos estes estabelecimentos sejam exclusivamente para turistas, porque senäo näo ganham dinheiro nenhum. E é de facto muito injusto o facto de esta gente viver miseravelmente, fazendo coisas pelas quais deveria ser bem paga. Como, por exemplo, as chismeñas (mulheres peruanas tradicionalmente vestidas com uma saia de roda e um pano colorido às costas, com duas longas tranças e um chapéu de coco), muito pobres, e que se dedicam ao artesanato, aos pequenos quiosques de bebida e comida nas ruas (näo para turistas, mas sim para cuzquenhos), à agricultura e à pecuária (criando lamas, ovelhas, vacas, porcos pretos, porquinhos da índia, etc), e fazem parte do escaläo mais pobre da sociedade. Porém, sem elas os restaurantes näo teriam comida, nem os mercados teriam artesanato... E pelo menos o artesanato peruano, sendo dos mais bonitos e elaborados que já vi, deveria ser melhor pago. Aos produtores, näo aos intermediários, que fique claro.
Outra coisa que eu já sabia, mas que custa sempre um bocado quando se vê in sito, tem a ver com as ruínas incas ao redor de Cuzco. Säo quase inexistentes. Apenas restam os blocos de pedra maiores, que os espanhóis näo puderam ou näo quiseram transportar. Todos os templos foram destruídos e as suas pedras utilizadas na construçäo da Catedral, das Igrejas e da Praça de Armas. Mais ou menos como quando Cortéz chegou à Cidade do México e näo teve hesitaçäo alguma em destruir o Templo Maior para pavimentar (repito: somente pavimentar!) a Praça do Zócalo. Só que desta vez o herói tinha o nome de Pizarro. A prepotência europeia com o intuito de fazer o que está certo, näo tem limites. Por que é que pessoas que säo completamente diferentes de nós haveriam de ser obrigadas a pensar de maneira igual. E, passados 500 anos, continuamos igualmente prepotentes.
Peço desculpa aos leitores, mas hoje estou com os azeites...