Teatro de marionetas. Museu Nacional
Jardim de estatuas. Museu Nacional
Palacio Presidencial. Jakarta
Jakarta
As minhas marionetas que nao cabem na mala
Calor... um calor humido e abafado... insuportavel... O clima tropical da ilha de Java, na Indonesia, faz com que so existam aqui duas estacoes. Nao ha grandes diferencas de temperatura entre verao e inverno, apenas que a primeira e a estacao seca e a segunda a estacao das chuvas.
Aterrei ontem a 7 da tarde em Jakarta e ja era noite cerrada. Demorei quase 2 horas a percorrer 20 km num taxi, devido ao transito caotico da capital. Para terem uma ideia, na auto-estrada que entra na cidade e que tem 2 faixas, havia 4 filas de carros, num dos maiores engarrafamentos que alguma vez vi. Os carros da policia circulavam com as sirenes ja em cima da terra, pela berma.
Cheguei ao hostel a transpirar por todos os lados. Seguramente com algum sentido de humor, o meu guia descrevia-o como "pensao original, bastante caseira e com quartos basicos. Todo o local inspira uma atmosfera caseira e familiar". Depois de ver o seu interior, a parte da "pensao original" ganhou um novo significado. Pelo menos, o quarto estava impecavelmente limpo. Quando finalmente me deitei sobre a cama, o calor, o ar irrespiravel, as paredes amareladas, a ventionha que nao funcionava e a fresta aberta no cimo da parede por onde passava a luz e o barulho do quarto ao lado, fez-me subitamente recordar o inicio do livro "The beach" (infinitas vezes melhor e mais complexo que o insipiente filme... fica aqui uma sugestao de leitura), em que o personagem principal alucinava no quarto da sua pensao em Bangkok com o hospede do quarto vizinho. Outro pormenor e que a cama so estava feita com um lencol por cima do colchao. E com toda a razao, porque algo para cobrir o corpo seria completamente inutil.
Estou tambem ainda por descobrir o uso das casas-de-banho aqui. Nao tem autoclismo. E ao lado da retrete esta sempre uma mangueira dentro de um tanque. Ultrapassa-me. Depois de percorrer varios locais, finalmente encontrei algo decente num Starbucks hoje. Para alguma coisa os americanos hao-de servir...
Mas, passando a temas menos fisiologicos, as duas primeiras missoes de hoje ja foram cumpridas. Arranjar um hotel para o regresso a Jakarta daqui a uma semana e comprar o bilhete de comboio para Yogyakarta amanha a noite. O caminho a pe ate a estacao, de mapa na mao, lutando por sobreviver a este clima e sendo constantemente abordada por taxis, rickshaws, motas e afins ocasionou algumas respostas menos apropriadas para uma jovem como eu. Mas o meu mau humor costuma aumentar a partir dos 27 graus de um clima tropical. Alem de que a minha fatiota de tunica comprida com o objectivo de "mingle" nao serviu para nada.
Mais uns quantos metros e avistei o Museu Nacional da Indonesia e la fui eu enfiar-me num ar condicionado. O Museu tem inumeras e infindaveis coleccoes de fosseis, esqueletos, artefactos, artesanato, miniaturas de casas, templos e barcos, estatuas, joias, etc. As informacoes apenas estavam em indonesio, por isso limitei-me a deambular por ali e a admirar as exposicoes. Mas deu para perceber que a historia da Indonesia data desde 4000 a.C. e e riquissima, com influencias hindus, budistas, islamicas e ocidentais. Depois de uma vista de olhos pelo meu guia, apenas posso dizer que e demasiado complexa para poder aqui explicar.
Caminhei mais uns metros e novamente me refugiei num ar condicionado, desta vez no Starbucks, para finalmente ir a casa-de-banho e comer algo. Imagino como vou tomar banho hoje...
Sai. Mais uns metros e o calor novamente me empurrou para dentro de um centro comercial, dos mais luxuosos que existem de certeza. Creio que por esta altura ja devem estar a imaginar o bafo que e esta terra.
Depois de me refrescar, voltei a rua e finalmente apareceram umas nuvens que tornaram possivel o passeio. Fiz toda a rua das embaixadas, ao mais puro nivel do Restelo, mas triplicando em tamanho e em luxo, ate ao mercado Rastro. O objectivo era comprar umas marionetas que tinha visto no museu e pelas quais me apaixonei. Por fim, la as encontrei e depois de regatear o preco, trouxe duas por cerca de 5 euros. Tenho agora um pequeno problema: a parte onde se agarra e demasiado pontiaguda e de certeza que nao me vao deixar levar no aviao, e nao cabem na mala... Tenho de descobrir uma forma de as poder levar...
Entretanto, de volta ao hostel, e estudando mais a fundo o assunto "banho", descobri uma seccao no guia onde se explica o funcionamento das casas-de-banho na Indonesia. Passo entao a explicar. De seu nome "mandis", contam com um grande deposito de agua e uma mangueira de plastico. Nao se deve entrar no deposito, ja que dali sai a agua e outras pessoas a utilizarao depois. Deve-se por isso molhar o corpo com a agua do deposito. Enquanto a retrete, como nao ha papel higienico nem autoclismo, os indonesios usam a mangueira e a agua do deposito para limpar as suas partes intimas com a mao esquerda. Logo deitam agua para dentro da retrete para esvaziar. Ja tinha ouvido falar deste costume da mao esquerda tambem na India. E que os indianos cumprimentavam sempre com a mao direita... Resumindo: bonito servico! Todos os dias terei de ir ao Starbucks!
Entretanto, estive a fazer contas a vida e ao dinheiro e acho que quando voltar para Jakarta, continuarei neste hostel. Aqui pago 3 euros por noite, enquanto no outro pagarei 30! E tirando o pormenor da casa-de-banho, o resto nao e assim tao mau.
Ja fui ver melhor a casa-de-banho e ha uma torneira tipo chuveiro que sai do tecto, com agua fria apenas. Nao estamos assim tao mal de facto. Preparo-me agora psicologicamente para o meu primeiro banho indonesio, enquanto comecam a soar ao longe trovoes poderosos e o ceu a ficar negro de nuvens...
Borobudur, Yogyakarta - Indonesia
Há 16 anos